Oi pessoal,
Olha o interessante texto que encontrei no Blog do Ricardo sobre a importância das palmas nos concertos de música erudita. O que acham?
Bjus e Abraços
As Palmas do Tio Argemiro
Eu tinha um tio chamado Argemiro e ele era um estudioso da lingua inglesa. Passava horas estudando gírias , sotaques , piadas e expressões regionais. O gozado é que ele foi tradutor da marinha americana e nunca saiu do Brasil. Pois é. Ele me dizia uma coisa que nucna esqueci. O que mais impede uma pessoa aprender uma lingua é a inibição. Assim, quando o sujeito está no começo, fala errado, e alguém, principalmente o professor, o corrige com rigor ou censura, pronto, o sujeito vai se sentir inibido e fica com muito medo de errar . E, dizia ele, só aprende quem erra , para depois, por si só corrigir.
Pois me lembrei dele e da sua ideia didática quando li que houve um concerto de música para o casal Obama e antes da récita, o próprio presidente fez um gracejo : disse que muitos tinham receio de aplaudir na hora errada e nem todos tinham a sorte de ter uma esposa como Michelle, que sabia a hora séria.
Sempre achei isso uma babaquice, mas ai daquele que ousar, principalmente em ambientes nouveau cult como a Sala São Paulo, a aplaudir entre um movimento. Quando levava o meu filho num concerto, mostrava-lhe quantos movimentos a peça apresentava e ele ia contando. Mas isso sempre me inquietou. As pessoas podiam dormir, roncar, olhar para o decote da vizinha,pensar no Corinthians ou achar o maestro um galã. Só não podia aplaudir no fim do segundo movimento.
Aí começou o papinho dos músicos, dizendo que as peças exigem tamanha concertração, que as palmas eram danosas. Emanuel Ax, um painista que toca Haydn como poucos também acha isso ridículo. Argumenta que os cantores de ópera tem maior necessidade de sentir a música e esperam as calorosas ovações quando acabam uma ária. Para ele, há concertos que o primeiro movimento ( ele cita Beethoven ) é tão intenso, que ao acabá-lo , calorosas palmas serviriam de incentivo para o restante.Sir Simon Rattle , também, disse que quando toca para um público infanto-juventil, gosta das palmas no meiol. “É sinal que a nova geração gostará de música de qualidade “.
Mas isso sempre foi assim ? Não. Se pegarmos as cartas que Mozart escreveu para o seu pai, se o público não aplaudisse durante os movimentos , era sinal que alguma coisa tinha dado errado. E assim, era preciso mudar. Mesmo os românticos, muito frescos com isso de sentir a música, não eram proibitivos a este respeito. Embora Robert Schumann , uma vez, disse que o ideal era uma plateia composta de surdo-mudos, que assim, respeitariam a música…
Wagner, o mais chato de todos os compositores, era também o mais vaidoso. Em Parsifal, ele aboliu o fechamento das cortinas, de um ato para outro. Resultado, o público nunca aplaudia. Até que ele mesmo deu o comando. Ao acabar uma ária na cena das flores, ele gritou do seu camarote Bravo ! Aplaudiu e desceu para entregar flores para a cantora ( dizem que depois ele a aplaudiu a sós , mas isso são outros quinhentos )
Serge Koussevitz, o maestro professor de Bernstein foi, talvez , o primeiro fresco a exigir palmas só no final. Ele tinha medo que acontecesse o que ocorreu na estreia da primeira sinfonia do Elgar. O público gostou tanto do primeiro movimento que chamou o compositor e os aplausos foram por mais de dez minutos. E , depois, muita gente foi embora.
Quando eu escuto, principalmente em concertos ao ar livre, repreensões às palmas, acho que pode estar aí uma das causas do afastamento da música clássica para a moça. Claro, tem a questão da educação, mas o diamante precisa ser lapidado por algum lugar.
Se não, vamos de rebolation till the end of the times, como bem sabia o Uncle Arge
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