quinta-feira, 24 de maio de 2012

Romantismo na Música


Contexto e características gerais

A Revolução Francesa causou profundas transformações, não apenas políticas, mas abalou todas as estruturas do pensamento, espalhando sua influência no campo das artes, da cultura e da filosofia. Sob a forma de um surto de liberalismo que se traduzia na defesa dos direitos do homem, da democracia e da liberdade de expressão, ela alterou a mentalidade européia e modificou os critérios de valor.

Assim, a música e a arte de modo geral procuravam se desligar da arte do passado deixando aos poucos os salões dos palácios e pondo-se mais ao alcance da nova classe social em ascensão, a burguesia, e invadindo as salas de concerto, conquistando um novo público ávido de uma nova estética.

A palavra romantismo designa uma maneira de se comportar, de agir, de interpretar a realidade. O comportamento romântico caracteriza-se pelo sonho, por uma atitude emotiva diante das coisas e esse comportamento pode ocorrer em qualquer tempo da história.  Na música romântica ocorre a valorização da liberdade de expressão, das emoções e a utilização de todos os recursos da orquestra. Os assuntos de cunho popular, folclórico e nacionalista ganham importância nas músicas.

            No Classicismo havia uma grande preocupação pelo equilíbrio entre a estrutura formal e a expressividade. No romantismo os compositores buscavam uma maior liberdade da forma e uma expressão mais intensa e vigorosa das emoções, freqüentemente revelando seus sentimentos mais profundos, inclusive seus sofrimentos.

Além da forte expressividade outra característica marcante no período musical romântico é a chamada música programática ou música descritiva. Não que em outros momentos da história da música não houvesse esse tipo de produção, mas no período romântico, essa é uma tendência bastante acentuada.

Dentre as muitas idéias que exerceram enorme fascínio sobre os compositores românticos temos: terras exóticas e o passado distante, os sonhos, a noite e o luar, os rios, os lagos e as florestas, as tristezas do amor, lendas e contos de fadas, mistério, a magia e o sobrenatural. As melodias tornam-se apaixonadas, semelhantes à canção. As harmonias tornam-se mais ricas, com maior emprego de dissonâncias.

As primeiras evidências do romantismo na música aparecem com Beethoven. Suas sinfonias, a partir da terceira, revelam uma música com temática profundamente pessoal e interiorizada, assim como algumas de suas sonatas para piano, entre as quais é possível citar a Sonata Patética. Outros compositores como Chopin, Tchaikovsky, Felix Mendelssohn, Liszt, Grieg e Brahms levaram ainda mais adiante o ideal romântico de Beethoven, deixando o rigor formal do Classicismo para escreverem músicas mais de acordo com suas emoções.

Na ópera, os compositores mais notados foram Verdi, que procurou escrever óperas, em sua maioria, com conteúdo épico ou patriótico - entre as quais a ópera Nabucco - embora tenha escrito também algumas óperas baseadas em histórias de amor como La Traviata; e também Wagner, que enfocava histórias mitológicas germânicas, como Tristão e Isolda e O Holandês Voador, ou sagas medievais como Tannhäuser, Lohengrin e Parsifal. Ainda mais tarde na Itália o romantismo na ópera se desenvolveria ainda mais com Puccini.


ROMANTISMO – 1ª FASE

                          


                                                  Estátua e pinturas de Frederic Chopin

                O compositor polonês Chopin inspirou-se em danças populares, despertando, com sua música, o amor patriótico e o sentimentalismo. Durante o Romantismo houve um rico florescimento da canção, principalmente do lied (‘canção’ em alemão) para piano e canto. O primeiro grande compositor de lieder (plural de lied) foi Schubert.

            O século XIX apresenta um novo público formado pela classe social burguesa que se interessa pela arte intimista: obras para solista, música de câmara e representações vocais, com acompanhamento instrumental, e a poesia de diferentes países. O canto acompanhado quer com cravo, piano ou guitarra, possui as qualidades específicas nacionais, as que encontramos no lied alemão, na mélodie francesa ou na canção espanhola ou inglesa.

Franz Schubert

            Havia uma grande variedade, entre elas as danças como as valsas, as polonesas e as mazurcas, peças breves como o romance, o prelúdio, o noturno, a balada e o improviso. Outro tipo de composição foi o estudo, cujo objetivo era o aprimoramento técnico do instrumentista. Com efeito, durante esta época houve um grande avanço nesse sentido, favorecendo a figura do Virtuose: músico de concerto, dotado de uma extraordinária técnica. Virtuoses como o violinista Paganini e o pianista Liszt eram admirados por platéias assombradas.

                                                                                Franz Liszt

                                                  Niccolò Paganini
                                                                                                                                                                        
Com Liszt teve início a carreira musical solista como se conhece hoje. Ele foi o primeiro "pop-star" do piano. Tudo começou quando assistiu a um concerto do grande violinista e compositor Niccolo Paganini, e decidiu seguir seu exemplo. Os seus concertos estavam sempre lotados e ele fazia questão de manter uma aura de charme e virtuosismo quando se apresentava, geralmente tocando composições de altíssimo nível técnico, que entusiasmavam o público.

            Outro aspecto de destaque do período romântico está na própria concepção de artista da época. A concepção do homem genial incita a buscar na biografia do artista os sinais de um destino excepcional. Os reveses da vida tendem a satisfazer a sanha do público, pois o artista genial é o eterno sofredor, em volta do mito estão a pobreza, a humilhação, as desventuras amorosas (Beethoven), a incompreensão dos contemporâneos, a doença (Beethoven) ou a loucura (Berlioz e Schumann) contribuem para a admiração sobre o caráter singular do artista. Na verdade os artistas românticos eram eles mesmos bastante atentos à publicidade da sua imagem. Ou como diria o poeta Flaubert "O artista deve dar um jeito para fazer a posteridade acreditar que ele não viveu".

            O músico romântico procurou se firmar como um artista autônomo, deixando de se submeter a patronos ricos (mecenas e as Cortes Imperiais), como ocorria no período barroco e clássico. Isso evidentemente garantia uma maior liberdade de criação aos músicos.


ASSOCIAÇÃO COM OUTRAS ARTES

Neste período, muitas vezes, o romantismo literário se confunde com o musical, já que os compositores românticos eram ávidos leitores e tinham grande interesse pelas outras artes, relacionando-se estreitamente com escritores e pintores. Não raro uma composição romântica tinha como fonte de inspiração um quadro visto ou um livro lido pelo compositor. Muitas das composições românticas “pintam quadros”, contam histórias; o individualismo romântico incitará freqüentemente o músico a "pintar" suas próprias experiências. Entretanto, apesar do individualismo, da subjetividade e do desejo de expressar emoções, o músico romântico ainda respeita a forma e muitas das regras de composição herdadas do classicismo.

Um dos músicos que melhor representou esse culto em torno do artista genial foi Robert Schumann. Ele é o maior compositor do romantismo alemão e, talvez, o maior romântico alemão, realizando na música aquilo que na literatura não tinham conseguido realizar os poetas. Na sua obra é muito forte o lado noturno do Romantismo, o pessimismo profundo, influenciado pelo poeta Byron, e os pressentimentos permanentes do fim na loucura.

Schumann foi também um escritor notável, poeta em prosa. Sua música também parece literária. Ele foi excelente crítico de música e fundou em 1834 a Nova Revista de Música, que em breve se tornou porta-voz de todos os esforços musicais sérios na Alemanha. Os títulos das suas peças eram genialmente escolhidos, mas só foram inventados depois da melodia. Schumann não fez música de programa. Sua poesia musical é cheia de frescor - e de melancolia profunda. Como inventor de belíssimas melodias pode ser comparado a Mozart.

Mendelssohn foi outro compositor eclético (além de compositor, ele era também pintor, escritor, esportista - praticava natação, esgrima e equitação- e, segundo consta, era exímio dançarino), embora de linguagem muito pessoal. Inspirado por sentimentos românticos criou obras de altas qualidades formais, fiel ao Classicismo vienense. Homem fino e culto, sua música equilibrada reflete a falta de paixão de quem se fez na vida sem esforço.

Robert Schumann

Além do mérito de sua própria obra, Mendelssohn também foi responsável pela redescoberta de outro gênio da música universal. Em 1829, regeu em Berlim a Paixão Segundo São Mateus, do então esquecido Johann Sebastian Bach.


ROMANTISMO - 2ª FASE

Muitos dizem que Johannes Brahms dominou, junto a Richard Wagner, a música erudita da segunda metade do século XIX. Um dos maiores nomes da cultura alemã, Brahms dedicou-se a quase todos os gêneros --exceto ópera e balé-- por meio do que acreditava ser realmente uma música pura. A obra de Brahms representa a fusão da expressividade romântica com a preocupação formal clássica.

            Brahms dedicou grande parte de sua obra ao piano. O gênero em que se revelaria um mestre foi a variação (ver página). O primeiro conjunto publicado foi a das Dezesseis Variações sobre um Tema de Schumann, escritas em 1854, onde já demonstra seu domínio técnico. Mas foi com as 25 Variações e Fuga sobre um Tema de Handel que Brahms atingiu o máximo no campo.

             
                                                       Brahms  
                 



Brahms foi principalmente um grande compositor de canções. Numericamente, os lieder formam a maior parte da sua obra. Na música coral de Brahms, destacam-se o Réquiem Alemão, talvez sua obra mais famosa, que o consagrou definitivamente. Já Richard Wagner, o inventor de um novo estilo de ópera, promoveu uma revolução musical em seu tempo, criou uma identidade coletiva e influenciou músicos de todos os períodos.

Wagner foi um grande dramaturgo. Wagner escreveu, ele próprio, todos os seus libretos. Seu talento duplo, de dramaturgo e de compositor, levou-o a retomar a reforma da ópera, já tentada um século antes por Gluck, subordinando a música ao enredo dramático, criando o drama musical. Ao drama também quis subordinar a cenografia, retomando a idéia romântica do Gesamtkunstwerk (obra de arte total). Usando com virtuosismo todos os recursos do palco ilusionístico, Wagner é antes de tudo um grande homem de teatro.

As Valquírias (1856) foi a obra mais forte de Wagner do ponto de vista dramático. Sua música é mesmo de consumação do Romantismo alemão, dizendo em acordes, o que este não conseguiu dizer em palavras. Mas também é a crise do Romantismo, pois o preço foi a quase total dissolução do sistema harmônico em Tristão e Isolda, obra que foi e continua sendo a base da música moderna.

Outro aspecto de destaque no período romântico é o nacionalismo. A música do final do século XIX, embora imbuída do individualismo, reflete as preocupações coletivas relacionadas aos movimentos de unificação que marcam a Europa. Foi quando compositores de outros países, principalmente os russos, passaram a ter a necessidade de criar a sua música, enaltecendo as suas raízes e a sua pátria.

Estes músicos se inspiravam em ritmos, danças, canções, lendas e harmonias folclóricas de seus países. É o chamado Nacionalismo Musical. Músicos como Bedrich Smetana (1824-1884) e Antonin Dvorák (1841-1904), Edvard Grieg (1843-1907), Modest Musorgsky (1839-1881) e Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1893) empregaram com freqüência temas nacionalistas em suas óperas, enquanto suas obras sinfônicas adquiriam intensidade e identidade própria ao combinar coloridos nacionalistas com os procedimentos estruturais estabelecidos pela corrente principal alemã.

A ORQUESTRA E A ÓPERA

A imagem que temos hoje da chamada música erudita é notadamente romântica. Neste período a orquestra cresceu não só em tamanho, mas como em abrangência. A seção dos metais ganhou maior importância. Na seção de instrumentos de sopro adicionou-se o flautim, o clarone, o corne inglês e o contrafagote. Os instrumentos de percussão ficaram mais variados.

As óperas mais famosas hoje em dia são as românticas. Os grandes compositores de óperas do Romantismo foram os italianos Verdi e Rossini e na Alemanha, Wagner. No Brasil, destaca-se Antônio Carlos Gomes com suas óperas O Guarani, Fosca, O Escravo, etc.

O concerto romântico usava grandes orquestras; e os compositores, agora sob o desafio da habilidade técnica dos virtuosos, tornavam a parte do solo cada vez mais difíceis. Compreende obras para grandes orquestras e privilegia o virtuosismo. Destaca-se a obra de Johannes Brahms, com suas quatro sinfonias, dos franceses César Franc (1822-1890) e Hector Berlioz (1803-1869), que revoluciona a concepção da orquestra clássica ao acrescentar mais instrumentos em sua Sinfonia fantástica, op.14, de 1830, reformulando os modos de instrumentação vigentes em sua época.


                                   Giuseppe Verdi


                                                                       Hector Berlioz

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